Spoiler alert! (vocês foram avisados!)
E.T. o extraterrestre de Steven
Spielberg foi sem dúvida o filme que mais me marcou na minha infância, estando
ao lado dos magníficos “Rei Leão” e “Em busca do Vale encantado”. No entanto,
enquanto que estes dois últimos me marcaram pela positiva, o E.T. marcou-me
negativamente durante uma boa parte da minha vida.
Ainda me lembro quando nos sentámos
na sala, eu, com uns dois anos de idade, e os meus pais, para ver esta obra prima.
Sem dúvida que a banda sonora dos
créditos iniciais era aterrorizante. Aquele som, juntamente com as letras roxas
sobre o pano negro preparavam-nos para algo enigmático que estava por vir.
O ambiente da floresta no início do
filme é das mais fantasiosas cenas de sempre. Um grupo de pequenos seres com
uma estranha locomoção que vieram à Terra para colher plantas. Eram botânicos.
E “amigáveis”, dizia a minha mãe. No entanto, para mim toda aquela banda sonora,
aquele ambiente surreal e misterioso era o que mais me aterrorizava. O facto de
nunca termos uma perceção exata da cara daquelas criaturas não me deixava lá
muito satisfeito. Apenas conseguíamos ver o que eles faziam, o que eles
tocavam. Pouco mais.
Toda a magia que abunda o cenário
deixa de existir quando chegam os homens do FBI. Estes perseguem o E.T. como se fosse
um animal até que, amedrontados, os seus companheiros partem e a triste
criatura fica abandonada no nosso planeta…
Mas a partir de agora é que as
coisas começavam a ficar mais assustadoras. A começar pela parte em que Elliot, o
miúdo de 10 anos sai de casa para ir esperar pelo homem da pizza e percebe que
estava alguma coisa nas traseiras da sua casa. É feito o primeiro “contato” em
que o rapaz atira a bola para dentro do seu armazém e esta é simplesmente arremessada
de volta.
As partes mais assustadoras e
mais cheias de suspense eram sempre aquelas em que não se consegue ver o E.T.
completamente. Era o que me causava mais tensão. Se era isso o que o Spielberg
pretendia, só lhe tenho uma coisa a dizer. Well
done!
Mas a parte mais assustadora de
todas é aquela em que o rapaz sai a meio da noite, (2 a.m.), para ir
procurar aquele “bicho”. A primeira vez que temos um vislumbre da cara do E.T.,
embora de uma forma bastante breve, é quando os dois se encontram cara a cara. E
os gritos de pânico são tão reais que muito dificilmente via
aquela cena sem que o meu coração disparasse. Ainda hoje é das cenas que mais
faz a parte infantil do meu subconsciente acordar se eu estiver desprevenido.
No entanto reconheço que uma das
cenas mais perturbantes é quando o Elliot está a dormir ao relento e
subitamente acorda só para ver o E.T. a uns poucos passos de distância. Esta
cena é amotinadora porque agora o rapaz tenta gritar pela sua família, mas não consegue
com medo que a criatura lhe faça alguma coisa. O mais assustador é que a
criatura aparenta-se calma. Pronuncia alguns grunhidos e subitamente começa a
caminhar, fazendo súbitas paragens. Sempre
a olhar para a criança. Tenso. Além disso, o jogo de luzes e contrastes foi
muito bem realizado, porque apesar de sabermos que a criatura estava de frente
para o Elliot. não conseguíamos ver para onde estava de facto a olhar. (Quando eu
era pequeno até tinha medo que estivesse a olhar para mim :P).
A parte que servia para
finalmente quebrar o gelo era quando, num calmo som de harpa, o E.T. e o Elliot
finalmente se conheciam, já no aconchegante e menos misterioso interior da sua
casa. Ainda assim, quando eu era pequeno, todos os minutos que eu já tinha
passado a assistir aquele filme ecoavam mais na minha cabeça e sem dúvida que
eu ainda tinha bastante receio daquela (afinal doce) criatura.
Por fim, duas outras cenas que
também me perturbavam eram a cara que o E.T. tinha quando estava escondido no
meio dos brinquedos do armário e quando adoece e fica todo branco e
inclusivamente chama a mãe do Elliot.
Durante bastante tempo, até antes
dos meus 8, 9 anos andei amedrontado com esta criatura. Sempre com medo que se
algum dia olhasse à noite, pela janela, um coração vermelho começava a brilhar,
ou que alguma criatura estivesse a olhar para mim. Todos nós decerto tivemos os
nossos medos, e penso que consegui combater o meu medo pelo E.T. quando o meu
tio me ofereceu um DVD da edição especial dos 20 anos.
Assim, revi o filme e aos poucos comecei a apaixonar-me por aquela história e por aquelas personagens.
Assim, revi o filme e aos poucos comecei a apaixonar-me por aquela história e por aquelas personagens.
Hoje olho para este filme como
uma magnífica peça de arte. É sem dúvida (na minha opinião) o melhor filme
realizado pelo Spielberg (lado a lado com o Jurassic Park, pronto).
Spielberg conseguiu transmitir um
pouco da sua biografia através deste filme (de uma forma alegórica) e, ao colocar o seu coração nesta realização, fez com que o filme ficasse fora do normal, e embora simples, também impactante.
Se vocês ainda não o viram
aconselho a que vejam (de preferência a versão de 1982).
Peace out,
André Gabriel
Historia bem colocada, ate senti seu medo!
ResponderEliminarmas quando eu era criança, meu medo era Karazi, Slender, Jeff, Ben e etc...