terça-feira, 3 de junho de 2014

Porque é que eu tinha medo do E.T.

Spoiler alert! (vocês foram avisados!)
E.T. o extraterrestre de Steven Spielberg foi sem dúvida o filme que mais me marcou na minha infância, estando ao lado dos magníficos “Rei Leão” e “Em busca do Vale encantado”. No entanto, enquanto que estes dois últimos me marcaram pela positiva, o E.T. marcou-me negativamente durante uma boa parte da minha vida.
Ainda me lembro quando nos sentámos na sala, eu, com uns dois anos de idade, e os meus pais, para ver esta obra prima.
Sem dúvida que a banda sonora dos créditos iniciais era aterrorizante. Aquele som, juntamente com as letras roxas sobre o pano negro preparavam-nos para algo enigmático que estava por vir.




O ambiente da floresta no início do filme é das mais fantasiosas cenas de sempre. Um grupo de pequenos seres com uma estranha locomoção que vieram à Terra para colher plantas. Eram botânicos. E “amigáveis”, dizia a minha mãe. No entanto, para mim toda aquela banda sonora, aquele ambiente surreal e misterioso era o que mais me aterrorizava. O facto de nunca termos uma perceção exata da cara daquelas criaturas não me deixava lá muito satisfeito. Apenas conseguíamos ver o que eles faziam, o que eles tocavam. Pouco mais.




Toda a magia que abunda o cenário deixa de existir quando chegam os homens do FBI. Estes perseguem o E.T. como se fosse um animal até que, amedrontados, os seus companheiros partem e a triste criatura fica abandonada no nosso planeta…
Mas a partir de agora é que as coisas começavam a ficar mais assustadoras. A começar pela parte em que Elliot, o miúdo de 10 anos sai de casa para ir esperar pelo homem da pizza e percebe que estava alguma coisa nas traseiras da sua casa. É feito o primeiro “contato” em que o rapaz atira a bola para dentro do seu armazém e esta é simplesmente arremessada de volta.
As partes mais assustadoras e mais cheias de suspense eram sempre aquelas em que não se consegue ver o E.T. completamente. Era o que me causava mais tensão. Se era isso o que o Spielberg pretendia, só lhe tenho uma coisa a dizer. Well done!




Mas a parte mais assustadora de todas é aquela em que o rapaz sai a meio da noite, (2 a.m.), para ir procurar aquele “bicho”. A primeira vez que temos um vislumbre da cara do E.T., embora de uma forma bastante breve, é quando os dois se encontram cara a cara. E os gritos de pânico são tão reais que muito dificilmente via aquela cena sem que o meu coração disparasse. Ainda hoje é das cenas que mais faz a parte infantil do meu subconsciente acordar se eu estiver desprevenido.




No entanto reconheço que uma das cenas mais perturbantes é quando o Elliot está a dormir ao relento e subitamente acorda só para ver o E.T. a uns poucos passos de distância. Esta cena é amotinadora porque agora o rapaz tenta gritar pela sua família, mas não consegue com medo que a criatura lhe faça alguma coisa. O mais assustador é que a criatura aparenta-se calma. Pronuncia alguns grunhidos e subitamente começa a caminhar, fazendo súbitas paragens. Sempre a olhar para a criança. Tenso. Além disso, o jogo de luzes e contrastes foi muito bem realizado, porque apesar de sabermos que a criatura estava de frente para o Elliot. não conseguíamos ver para onde estava de facto a olhar. (Quando eu era pequeno até tinha medo que estivesse a olhar para mim :P).




A parte que servia para finalmente quebrar o gelo era quando, num calmo som de harpa, o E.T. e o Elliot finalmente se conheciam, já no aconchegante e menos misterioso interior da sua casa. Ainda assim, quando eu era pequeno, todos os minutos que eu já tinha passado a assistir aquele filme ecoavam mais na minha cabeça e sem dúvida que eu ainda tinha bastante receio daquela (afinal doce) criatura.




Por fim, duas outras cenas que também me perturbavam eram a cara que o E.T. tinha quando estava escondido no meio dos brinquedos do armário e quando adoece e fica todo branco e inclusivamente chama a mãe do Elliot.





Durante bastante tempo, até antes dos meus 8, 9 anos andei amedrontado com esta criatura. Sempre com medo que se algum dia olhasse à noite, pela janela, um coração vermelho começava a brilhar, ou que alguma criatura estivesse a olhar para mim. Todos nós decerto tivemos os nossos medos, e penso que consegui combater o meu medo pelo E.T. quando o meu tio me ofereceu um DVD da edição especial dos 20 anos. 
Assim, revi o filme e aos poucos comecei a apaixonar-me por aquela história e por aquelas personagens.  
Hoje olho para este filme como uma magnífica peça de arte. É sem dúvida (na minha opinião) o melhor filme realizado pelo Spielberg (lado a lado com o Jurassic Park, pronto).
Spielberg conseguiu transmitir um pouco da sua biografia através deste filme (de uma forma alegórica) e, ao colocar o seu coração nesta realização, fez com que o filme ficasse fora do normal, e embora simples, também impactante.
Se vocês ainda não o viram aconselho a que vejam (de preferência a versão de 1982).


Peace out,
André Gabriel

1 comentário:

  1. Historia bem colocada, ate senti seu medo!
    mas quando eu era criança, meu medo era Karazi, Slender, Jeff, Ben e etc...

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