Ainda hoje ouvi algo como isto da boca de um criacionista:
Um individuo cortou todas as letras da enciclopédia
Britannica, colocou os recortes num enorme saco do lixo, foi para o alto de um
monte, atirou as letras e esperou que essas letras formassem a enciclopédia
completa. Letra por letra, significado por significado, página por página,
volume por volume. Isso seria absurdamente improvável.
De modo semelhante o genoma de um simples ser unicelular
(formado por apenas uma única célula) como a amiba jamais se poderia organizar
aleatoriamente de modo a originar esse organismo.
Assim seria necessário que uma entidade inteligente
criasse esse ser. Jamais esse ser apareceria por forças aleatórias.
Devo
confessar que podemos de facto traçar uma ponte entre a enciclopédia e o genoma
de um organismo:
- O conjunto de livros que compõe a enciclopédia seria o genoma total do organismo,
- O conjunto de livros que compõe a enciclopédia seria o genoma total do organismo,
- Os volumes seriam o conjunto de moléculas informativas (os
ácidos nucleicos [aka DNA] agregados a proteínas – cromossomas),
- o significado do conjunto de palavras seriam os genes,
- cada letra da enciclopédia corresponderia a uma das 4 letras universais do DNA (A, T, G ou C).
- o significado do conjunto de palavras seriam os genes,
- cada letra da enciclopédia corresponderia a uma das 4 letras universais do DNA (A, T, G ou C).
Em
que aspecto é que eu considero este argumento falacioso?
Para começar, posso apontar uma grave falácia lógica; uma falsa dicotomia, no último parágrafo (clica aqui para mais detalhes sobre falácias).
Além disso o locutor está a comparar seres inanimados a seres animados. Se há coisa que temos de ter em conta é que “Life finds a way” (a vida encontra um caminho), como já dizia Ian Malcom num famoso livro de Michael Crichton.
Além disso o locutor está a comparar seres inanimados a seres animados. Se há coisa que temos de ter em conta é que “Life finds a way” (a vida encontra um caminho), como já dizia Ian Malcom num famoso livro de Michael Crichton.
Se
o livro não tem vida, então o livro não encontra um caminho. Mas que caminho é
esse? É o caminho da sobrevivência, do instinto e da adaptação a novas
condições ambientais. É nada mais, nada menos que a capacidade que um organismo tem em modificar-se e originar novas formas resistentes através da sua descendência. É
verdade que muitos organismos não se adaptam a mudanças súbitas no ambiente,
mas são os poucos que sobrevivem que manifestam que são aptos a sobreviver no ambiente em que habitam e, como consequência conseguem reproduzir-se,
passando os seus genes para a descendência e dando origem a novas características através de processos como mutação e crossing over: É o
brotar da biodiversidade.
Um
livro não cresce, não se alimenta, não se reproduz, não tem recetores químicos,
não se locomove. Concluindo: Um livro não é vida.
Isto
leva-me à minha segunda observação: Um ser vivo não surge aleatoriamente do
nada como foi apontado acima. A isso chamamos de geração espontânea; ratos
que surgem de lixeiras, lagartas que surgem de corpos em decomposição, etc….
Esta hipótese já caiu em desuso há alguns séculos. De
facto esses organismos não surgem do nada. Surgem sim dos seus progenitores, ora por reprodução sexuada, ora por reprodução assexuada. A Teoria celular diz-nos que todos
os organismos descendem de outros, pois todas as células derivam de outras
pré-existentes.
No
entanto resta-nos um problema: De onde vêm as amibas? Por incrível que possa soar, a amiba é um ser bem mais complexo do que uma bactéria: As diferentes amibas que conhecemos hoje são protistas que se originaram de outros seres ancestrais pelo processo de especieção. Este processo evolutivo ocorreu devido a alterações no genoma dos seus ancestrais e devido a pressões seletivas
exercidas sobre as mesmas. Como consequência deu-se a alteração do fundo genético da população de
amibas, originando-se as várias espécies de amiba, entre as quais temos como
exemplos:
Amoeba discoides, Amoeba dubia, Amoeba gorgonia, Amoeba guttula, Amoeba limicola, Amoeba proteus, Amoeba radiosa, Amoeba spumosa, Amoeba striata, Amoeba verrocosa, Amoeba vespertilio.
Amoeba discoides, Amoeba dubia, Amoeba gorgonia, Amoeba guttula, Amoeba limicola, Amoeba proteus, Amoeba radiosa, Amoeba spumosa, Amoeba striata, Amoeba verrocosa, Amoeba vespertilio.
De facto não são forças aleatórias que dirigem a vida. É a própria Seleção natural.
Será
que Deus se iria preocupar a criar cada espécie de amiba quando é dito que o
seu alvo é o Homem? E as outras espécies todas de bactérias, vírus, algas,
plantas, fungos…? A pergunta fica no ar. Mas se for esse o caso, a crença em Deus (ou até Deuses), porque não aceitar que a
vida surgiu e evolui sujeita a pressões seletivas? Muitos organismos têm-se extinguido ao longo do tempo o que permitiu que outras formas de vida florescessem. Por que motivo não seria
esse o mecanismo que a entidade divina usaria para formar o Homem? O que nos leva a dizer
que não foi assim?
Se
de facto uma divindade criou todas as espécies de forma imutável há menos que 10.000
anos, por que motivo, em camadas mais profundas, existem tantos fósseis de espécies que hoje não existem e "nenhuns"* de espécies contemporâneas?
*Seria desonesto se não fizesse menção à clara existência de fósseis-vivos, tais como o náutilo, o celacanto e imensas espécies de tartarugas e crocodilos. Estes organismos não sofreram modificações quase nenhumas por um motivo evidente: Sofreram pouca pressão seletiva e têm-se revelado, não só em ser aptos a sobreviver no ambiente em que vivem, como também se revelaram propensos a resistir a diversas alterações climáticas.
*Seria desonesto se não fizesse menção à clara existência de fósseis-vivos, tais como o náutilo, o celacanto e imensas espécies de tartarugas e crocodilos. Estes organismos não sofreram modificações quase nenhumas por um motivo evidente: Sofreram pouca pressão seletiva e têm-se revelado, não só em ser aptos a sobreviver no ambiente em que vivem, como também se revelaram propensos a resistir a diversas alterações climáticas.
Será
normal pensar que durante milhões e milhões de anos a vida iniciou com os seus
protótipos aos quais mal se podia chamar vida e hoje vemos que a vida está encarnada em organismos tão complexos com órgãos e estruturas tão coordenadas, como o olho, o coração e os tilacoides das plantas.
Será esta ideia assim tão absurda? O meu conselho é que leiam o que os
cientistas estão a descobrir em livros e artigos científicos. Não artigos do "Correio da Manhã” ou do “Jornal de Notícias”; Não! Leiam as fontes. Sejam críticos mas
num sentido construtivo, não num sentido conformado.
A
vida não é imutável.
Post
Scriptum:
As
teorias criacionistas das várias religiões do mundo são consideradas pelos
criacionistas cristãos como ridículas. Não deixo de concordar. Até o
evolucionismo parece bastante ridículo quando é singelamente colocado face à
complexidade de muitos órgãos. Mas vamos lá pensar: Não seria um universo sem
estrelas um local ridículo para a sobrevivência das plantas? Não seria ridícula
a dentição e aparelho digestivo dos carnívoros num mundo em que nenhum ser
humano e nenhum animal estava predestinado a morrer (à exceção das plantas que
por algum motivo eram menos que os animais)?
De
facto, todas as conceções de origem da vida aparentam-se ridículas pois não
estava lá ninguém para ver o que de facto aconteceu.
Saibamos
apenas Respeitar as conceções dos que nos rodeiam, mas não
fechemos os olhos às descobertas científicas, já que ciência é conhecimento,
nada mais transcendente que isso.
Peace
out,
André
Gabriel
Um pensamento interessante...
ResponderEliminar@dregabriel34343 faz um post sobre as esponjas e a relação delas com o Reino Animalia (ao invés dos fungos ou plantas) ! :D :D
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