Sem dúvida que um dos fatores que
mais asseguram a nossa identidade pessoal é a memória. A memória, assim como o
esquecimento, é essencial para a nossa sobrevivência. Gazzinga disse que “99%
da informação que entra no cérebro é posta de lado”. Isto ocorre porque cabe ao
cérebro selecionar o que é de facto relevante à nossa vida.
A aquisição de novas memórias
pode interferir com a recuperação de memórias antigas e o mais incrível é que
sempre que uma memória é invocada esta sofre alterações: Modifica-se. Assim se
alguém lhe meter na cabeça que quando foi comer fora pediu um prato de vitela,
quando de facto pediu leitão, a sua memória pode ser moldada de tal maneira
(dependendo da intensidade com que essa nova aprendizagem é adquirida pelo
cérebro) que terá comido leitão naquele dia. E até achará estranho
se encontrar o talão que comprova que não comeu vitela. Assim, “não se
esquece. Só não se reconhece”.
Por outras palavras, não podemos caraterizar
a memória como um processo inalterável. A memória não reproduz fidedignamente o
registo aprendido: Reconstrói os dados. Assim, sempre que se conta uma
história, são inventadas novas descrições, e outras são ocultadas de modo
involuntário. No entanto, nem todos os conteúdos são esquecidos. Podem
simplesmente modificar-se de tal forma que já não se assemelham ao contexto de
aprendizagem.
A formação de memórias ocorre
devido à construção e consequente utilização dos circuitos nervosos. A informação inicialmente aprendida é
importante, pois influencia na construção de novas memórias. É a utilização dos
circuitos nervosos construídos para uma certa memória que permite tornar uma
memória de curto prazo numa memória de longo prazo.
As manifestações de memória e
emoções são controladas pelas estruturas do sistema límbico. A consolidação da memória ocorre no hipocampo, ao estabelecer novas conexões
com o neocórtex (regiões bem desenvolvidas do cérebro) e a amígdala (o verdadeiro “centro das emoções”) pode influenciar a
formação da memória ao atribuir emoções.
Assim quando alguém disser “Gostei tanto de te voltar a ver”,
podemos identificar a ação destas estruturas do sistema límbico. Na parte “Gostei tanto” é reconhecida a ação da
amígdala e “de te voltar a ver”, do
hipocampo.
No entanto se ocorrerem lesões
nalgumas regiões do nosso cérebro pode ocorrer perda de memória, que se
caraterizam em amnésias e, em casos mais graves, até demências.
O desgaste das células do sistema
nervoso e respetivos circuitos nervosos pode dificultar o processo de
memorização e por vezes torna-se complicado adquirir novas memórias (amnésia anterograda). Por outro lado, também
pode ocorrer dificuldade em recordar o que foi memorizado mais recentemente (amnésia retrograda) devido ao consumo
de álcool ou até lesões cerebrais.
E as questões que ficam no ar:
Seremos nós o produto da nossa memória? Será que se a nossa memória fosse total
ou parcialmente apagada a nossa identidade se manteria? Será que uma formatação
à nossa memória nos levaria a tornar-nos noutros indivíduos que não nós?
Peace out,
André Gabriel
Great! Vou tentar memorizar o que escreveste... solidificar conhecimentos antigos! :)
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