segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Memória e identidade

Sem dúvida que um dos fatores que mais asseguram a nossa identidade pessoal é a memória. A memória, assim como o esquecimento, é essencial para a nossa sobrevivência. Gazzinga disse que “99% da informação que entra no cérebro é posta de lado”. Isto ocorre porque cabe ao cérebro selecionar o que é de facto relevante à nossa vida.




A aquisição de novas memórias pode interferir com a recuperação de memórias antigas e o mais incrível é que sempre que uma memória é invocada esta sofre alterações: Modifica-se. Assim se alguém lhe meter na cabeça que quando foi comer fora pediu um prato de vitela, quando de facto pediu leitão, a sua memória pode ser moldada de tal maneira (dependendo da intensidade com que essa nova aprendizagem é adquirida pelo cérebro) que terá comido leitão naquele dia. E até achará estranho se encontrar o talão que comprova que não comeu vitela. Assim, “não se esquece. Só não se reconhece”.

Por outras palavras, não podemos caraterizar a memória como um processo inalterável. A memória não reproduz fidedignamente o registo aprendido: Reconstrói os dados. Assim, sempre que se conta uma história, são inventadas novas descrições, e outras são ocultadas de modo involuntário. No entanto, nem todos os conteúdos são esquecidos. Podem simplesmente modificar-se de tal forma que já não se assemelham ao contexto de aprendizagem.



A formação de memórias ocorre devido à construção e consequente utilização dos circuitos nervosos. A informação inicialmente aprendida é importante, pois influencia na construção de novas memórias. É a utilização dos circuitos nervosos construídos para uma certa memória que permite tornar uma memória de curto prazo numa memória de longo prazo.

As manifestações de memória e emoções são controladas pelas estruturas do sistema límbico. A consolidação da memória ocorre no hipocampo, ao estabelecer novas conexões com o neocórtex (regiões bem desenvolvidas do cérebro) e a amígdala (o verdadeiro “centro das emoções”) pode influenciar a formação da memória ao atribuir emoções.

Assim quando alguém disser “Gostei tanto de te voltar a ver”, podemos identificar a ação destas estruturas do sistema límbico. Na parte “Gostei tanto” é reconhecida a ação da amígdala e “de te voltar a ver”, do hipocampo.


No entanto se ocorrerem lesões nalgumas regiões do nosso cérebro pode ocorrer perda de memória, que se caraterizam em amnésias e, em casos mais graves, até demências.

O desgaste das células do sistema nervoso e respetivos circuitos nervosos pode dificultar o processo de memorização e por vezes torna-se complicado adquirir novas memórias (amnésia anterograda). Por outro lado, também pode ocorrer dificuldade em recordar o que foi memorizado mais recentemente (amnésia retrograda) devido ao consumo de álcool ou até lesões cerebrais.



E as questões que ficam no ar: Seremos nós o produto da nossa memória? Será que se a nossa memória fosse total ou parcialmente apagada a nossa identidade se manteria? Será que uma formatação à nossa memória nos levaria a tornar-nos noutros indivíduos que não nós?

Peace out,
André Gabriel





1 comentário:

  1. Great! Vou tentar memorizar o que escreveste... solidificar conhecimentos antigos! :)

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